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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012


Areal: povo vai à Câmara pedir fim de represas da Golden.

 

Morar nos bairros Fazenda Velha e Portões, na zona rural de Areal, passou a ser condição de risco, depois que duas represas construídas no alto da antiga fazenda Haras Laranjeiras, hoje pertencente ao grupo Golden Cross, apresentaram problemas estruturais e ameaçam ruir em avalanche sobre toda a comunidade. 
A denúncia foi tornada pública pela Associação dos Moradores e Amigos da Fazenda Velha e Portões, a AMAFVP, que ingressou com pedido de vistoria na prefeitura e no órgão técnico do Estado, mas não encontrou neles o empenho necessário para evitar uma possível catástrofe, caso os reservatórios rompam. 
Segundo Raphael Santhiago, que preside a associação de moradores, a fazenda pertencia à sua família e foi vendida ao empresário Milton Afonso, que a anexou ao complexo da Golden Cross em junho de 2007, já possuidora de lagos artificiais antigos e estabilizados, mas com a construção de duas imensas represas no alto da Laranjeiras, sem a elaboração de projeto de engenharia e estrutural, e sem aprovação do Inea-SUPPIB, em Petrópolis, começaram a surgir vazamentos que colocam em risco o ‘entaludamento’ dos reservatórios. 
Raphael contou que em janeiro de 2009, uma grande chuva atingiu o município, alagando uma imensa região habitada no bairro Fazenda Velha, havendo a suspeita de que as represas teriam rompido. Diante disso, a AMAFVP encaminhou ofício à prefeitura pedindo a fiscalização da área inundada, mas não obteve qualquer resposta. Em janeiro de 2011, apesar das comunidades não terem sido atingidas pela enchente que destruiu parcialmente o município, preventivamente foi solicitada nova inspeção aos mananciais, mas novamente a prefeitura ignorou o pedido. Este ano, com as fortes chuvas de janeiro, a maior das represas apresentou um abalo que, segundo avaliações iniciais, evidenciavam a possibilidade de rompimento, o que ocasionou uma grande apreensão por parte da população que, mobilizada através da AMAFVP, decidiu mais uma vez agir e denunciou as irregularidades até então ignoradas pela prefeitura, ao órgão de Defesa Civil e pediu ao INEA que fizesse uma vistoria no local, realizada poucos dias depois. 
A partir daí, segundo os denunciantes, muitas irregularidades foram percebidas no processo administrativo instaurado pelo Inea, cuja cópia em poder da associação de moradores evidenciaram manipulação de informações que favorecem o proprietário da fazenda, isentando-o de qualquer penalidade ou multa pelos crimes ambientais praticados. Segundo os moradores dos dois bairros, as declarações dos proprietários da fazenda, ao afirmarem que as represas já existiam quando as terras foram adquiridas, em 2007, são falaciosas, o que pode ser confirmado pelos antigos moradores da região, assim como pelos herdeiros antigo proprietário, que já se dispôs a assinar termo declaratório com essa afirmação. Como prova da construção recente, os comunitários sugerem consulta ao aplicativo de imagem de satélite do Google Maps, que em data anterior a 2007 não consta a existência dos reservatórios, mas a evidência do fato não foi considerada pelo chefe de fiscalização do INEA, que ao visitar o local aceitou inconteste as informações que lhes foram dadas pelos atuais responsáveis pela propriedade. 
O assessor da Superintendência Piabanha, do Inea, confirmou a vistoria no final de 2011 e diante de novas denúncias outra foi feita em janeiro, quando se constatou erros no projeto de represamento. Diante dos riscos de rompimento do talude, - a parede de terra que segura a água -, os técnicos do Inea recomendaram seu esvaziamento, mas nenhuma ação foi executada pelos responsáveis e parte da parede de contenção já dá mostras de vazamento, onde é possível ver inclusive, água brotando no piso das casas que ficam na parte baixa do morro. Numa reunião entre moradores do bairro e técnicos da Defesa Civil do município, ocorrida há um mês, os agentes conhecidos como Juvenal e Mauro alegaram desconhecer a existência do reservatório e em razão disso, o juiz aposentado Jose Adilson Marques Bevilacqua e os ex-proprietários da Fazenda Laranjeiras decidiram fazer a denúncia no Ministério Público. 

Interferência de vereador é vista com desconfiança.
Segundo Raphael Santhiago, as reclamações apresentadas ao governo municipal caíram em descrédito por interferência do presidente do Legislativo municipal, José Adilson Soares, o Adilson da Golden, que é o administrador da fazenda Golden Cross. Com a ação tramitando da ação no Ministério Público, Raphael e o ex-juiz Bevilacqua pretendem descortinar um cenário mais realista. O juiz Bevilacqua foi o primeiro promotor de justiça no Brasil a instaurar e a presidir um inquérito civil público por danos ao meio ambiente e ao patrimônio paisagístico, em 1985, contra uma poderosa siderúrgica de Minas Gerais, e suas expectativas são de uma rápida intervenção do Estado, para evitar uma tragédia anunciada. 
Raphael convocou os moradores e comerciantes dos bairros adjacentes aos imensos reservatórios que ficam no final da Estrada de São Pedro, para uma manifestação pacífica na Câmara legislativa de Areal. 
- “Com base nesse conjunto de fatos e documentos que temos em nosso poder, solicitamos à Câmara Municipal espaço na Tribuna Livre da sessão plenária da próxima quarta-feira, dia 29, quando denunciaremos a farsa que está sendo montada pelos órgãos que administram essa questão e cobraremos a apuração de responsabilidades”, declarou.

Fonte: Folha Popular